“As cooperativas de crédito têm papel fundamental para estimular o empreendedorismo”
Na opinião do presidente do Sistema Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo), Edivaldo Del Grande, baseado nos valores de ajuda mútua, o cooperativismo tem contribuído para a superação das dificuldades enfrentadas pela pandemia. O dirigente ressalta ainda o papel das cooperativas financeiras nas suas comunidades.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Central em Notícias - Quais os impactos da crise econômica provocada pela pandemia no cooperativismo paulista?
Edivaldo Del Grande - O cooperativismo no Estado de São Paulo abrange diversos ramos. Vivemos, portanto, situações bem distintas. As cooperativas enquadradas nos serviços considerados essenciais continuam atuando, agora com os devidos cuidados sanitários. São as cooperativas de profissionais da saúde, na linha de frente do atendimento aos enfermos; as agropecuárias e as de consumo, que produzem e distribuem os alimentos, respectivamente; as de transporte, que carregam as mercadorias essenciais; as cooperativas que fornecem energia elétrica; as de crédito, importantes neste momento para o socorro emergencial aos cooperados; entre outras.
Vemos impactos negativos principalmente nas cooperativas que tiveram de cessar suas atividades por conta da quarentena. As de reciclagem são um caso típico, em que seus catadores estão parados, sem renda. Muitas cooperativas de trabalho, se não conseguiram se adaptar para o home office, também estão paradas. As educacionais começam a experimentar o ensino online.
E mesmo em cooperativas que deveriam estar funcionando, há casos complicados. Cooperativas de produtores de flores, por exemplo, pela baixa demanda não estão fazendo nem 30% do movimento previsto. Os cooperados que produzem cana também enfrentam baixo consumo de etanol e a concorrência do preço da gasolina. Nas cooperativas de pequenos produtores de hortifrúti, a situação está muito difícil para aquelas que dependem da merenda escolar para escoar seus produtos. Ela está suspensa e os produtores, sem renda, têm jogado fora toneladas de alimentos.
Em todos esses casos de dificuldades, temos conversado com os gestores públicos para tentar encontrar soluções que amenizem os impactos negativos.
Na sua opinião, como o cooperativismo pode contribuir para as comunidades onde estes empreendimentos estão inseridos?
Del Grande - Já vêm contribuindo. Cooperativa é uma empresa diferenciada, baseada em valores de ajuda mútua, cooperação, princípios humanitários. O sétimo princípio universal do cooperativismo é exatamente a preocupação com a comunidade. Temos recebido muitas notícias de cooperativas que estão ativas em suas regiões para diminuir o sofrimento da população. São ações que envolvem doação de alimentos e itens de higiene e limpeza; iniciativas de prevenção e conscientização; orientação psicológica gratuita por telefone; entre tantas outras.
Muitas cooperativas estão fazendo o que chamamos de intercooperação solidária. Umas ajudando outras que estão mais vulneráveis nesta crise.
Temos incentivado todos esses tipos de ação social. Queremos divulgar e reunir essas iniciativas no programa nacional Dia C deste ano, que vai abordar esse tipo de ajuda das cooperativas às suas comunidades.
Como analisa o papel das cooperativas de crédito na criação de oportunidades de trabalho e renda?
Del Grande - As cooperativas de crédito têm papel fundamental para estimular o empreendedorismo. Nossas cooperativas oferecem linhas de crédito especiais para pequenos empreendedores, com juros bem acessíveis. Isso possibilita impulsionar novos empreendimentos e ampliar empresas já existentes, criando mais oportunidades de trabalho e renda. Somos estratégicos, sim, para o desenvolvimento de um país com menos desigualdades. Importante lembrar aqui que, em centenas de municípios, a cooperativa de crédito é a única instituição financeira existente.
Na sua avaliação, o cooperativismo financeiro pode contribuir para outros ramos do cooperativismo, por meio da intercooperação?
Del Grande - Sem dúvida. É o que esperamos e isso já vem acontecendo. Temos dito que as cooperativas de crédito têm a capacidade de impulsionar ainda mais os benefícios do cooperativismo, independentemente do setor de negócio. As cooperativas financeiras precisam expandir suas carteiras, tanto em pessoas físicas como jurídicas. E temos um mundo cooperativista a ser explorado. A intercooperação é um dos temas mais preciosos para o Sistema Ocesp. Enxergamos na intercooperação uma grande alternativa de desenvolvimento para o cooperativismo. Tanto é que esse assunto mereceu um projeto especial elaborado por nós para todo o Estado, com reuniões de cooperativas de diversos ramos, onde incentivamos a interação de negócios.